sábado, 19 de abril de 2008

[subterfúgio irreverente iconoclasta]

Só foi preciso que Freud perdesse o cabaço. E a massa se uniu pela causa mais nobre de todas; a apologia, o abraço ao duende. Em fins de 2006, a super-popularidade de Alexandre Frota favoreceu a revolução para o novo cool. A G magazine explodindo nas bancas, banheira do Gugu. O Frota abandonou a Raia abraçando assim a nova transgressão e a irreverência iconoclasta, explorou o capitalismo de forma que Piva nenhum poderia por defeito. Mas a massa é incoerente e, após o mais lindo de todos os suicídios na Imigrantes, ficaram todos atordoados e clamando por justiça e, assim é a massa, a nova massa: irreverente. Confundiram motivação com justificativa, e que ninguém ouse dizer-lhes que são damas distintas que freqüentam a mesma farra. Afina, sempre aparece um novo modelo de celular: masturbação mental para o proprietário. E nosso Freud contemporâneo afirma “pseudo-anarquia é foda”. Sim senhoras e senhores, o Frota ainda tem muito o que nos ensinar.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

[subterfúgio cinza]

Qualquer coisa parecia mais interessante, do que aquilo.
Seria preciso um outro tipo de manifesto?
Não agüentava mais aquele discurso repetitivo e cheio de hipocrisia. Há muito percebia que sua ideologia não mais me convencia. Queria mandá-lo calar, até quando ele se acharia o centro das atenções, aquele egocentrismo estava por demais irritando.
Cocei a cabeça e cruzei e descruzei as pernas, impaciente abri a bolsa para pegar meu espelhinho e retocar a maquiagem. Vi que havia uma ligação perdida no celular e resolvi sair daquele cubículo, pelo menos tinha uma desculpa.
No celular era Rouxelle, o que seria dessa vez? Será outra briga com Pedro? Será que dessa vez ela daria um basta nos seus delírios e se fosse pior e se ela estivesse numa roubada, ela sempre se metia em encrencas e eu estava sempre tentando tapar o sol com a peneira, afinal desde pequena sempre livrei-a dos problemas. Mas agora estava passando dos limitess o vício havia tomado conta por demais de sua vida besta. Na verdade estava cansada de salvar Rouxelle, mas está no inferno abraça o capeta, não e?
- Rouxelle?! Oi é Mi, fala baranga o que você precisa agora?
- Porra Milla não fala assim comigo....
- Você viu que horas são?
- Até parece que você estava dormindo se te conheço você estava com o reacionário do Silvio, não é?
- Afffe fala o que aconteceu?
- Vamos para o Liderança?
- Ahhhhh pára, não agüento aquele lugar, não sei como você consegue, aqueles babões, Ro, não dá pra mim e nem curto jogar, fazer lá o que? E o Pedro?
- Está lá pra variar, dormindo cheio de conhaque e uma bela trepada, ronca feito um porco.
- Você adora vai! Se não fosse isso não estaria com ele até hoje.
- Não Sei Milla, acho que já era.
- Duvido!
- Enfim você vem ou não ?
- Vou sair daqui e passo lá pra ver se você ainda está viva.
- Ok, beijos xau.
- Xau sua maluca!
Agora eu tinha um motivo bom para sair dali. Dei um breve adeus para o Silvio e fui àquele lugar peçonhento.
O caminho sempre estranho, sempre achava que alguém me espreitava, ainda era outono? Há dias não via o sol. Pelas minhas contas deveríamos estar quase no inverno, aqueles dias sombrios, queria logo um sol de verão, estava cansada do cinza, das cinzas, elas só serve quando renascemos como a fênix, mas estava longe de renascer, apenas cansada dessa vida besta.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

[subterfúgio do início de mês]

Oscar foi empurrado pelas próprias idealizações até chegar num ponto crítico. E o rompeu. Depois disso a única coisa importante foi o que sobrou do amor. Do seu amor, livre de conceitos. A sagrada prostituição de sua alma. Após a ruptura a transgressão tornou-se natural. Maquiavel não lhe dava alento, alias, seu princípio deixava-o desesperado. A suposição da morte o horrorizava, por isso entendia que a maioria das pessoas joga isso pra o inconsciente, igual o início da vida, esquecimento proposital do lugar que saímos e como caímos aqui. E a vida ganhou o soneto de fidelidade, o groucho-marxismo.


[subterfúgio risca de giz]

Levantava-se todos as sete para ir ao trabalho, com exceção dos dias de ressaca, sentia os miolos soltos dentro da caixa craniana, isto é, quando acordava a tempo. Semanas, meses e anos de amargura se passavam sem que Oscar se desse conta de que a vida passava. Contudo nunca reclamara de coisa alguma. Afinal, não era um sujeito típico e havia até, muitos que invejavam sua posição, inclusive José Carlos.
O pavil nunca deixa de queimar, por mais que pensemos que o fogo sinuoso estabilizado se dirigindo ao fim. Ora em outra, sempre há uma maior concentração de fosfato num ponto aleatório.
E foi isso. Oscar não quis leis de repente, mas estava disposto a negociar, seria sincero, sem ligar para o que deus ou o coelho da páscoa pensam. O fato é que ele queria algo e assim o fez. Demitiu-se. Através de seus subterfúgios, com todos os direitos trabalhistas e mais um pouco garantido.
Gatos vadios nem sempre se encontram. Roxelle que o diga.Oscar comprou um relógio de ouro e, sob medida encomendou um belo terno risca de giz, com camisa de linho branco, gravata de seda vinho e tudo mais... e apropriou-se de um metro linear num dos balcões mais caros da cidade., martines e cigarrilhas cubanas a vontade... até que atraísse as melhores putas. Mas só as melhores.

domingo, 13 de abril de 2008

[subterfúgio do fim do mês]

José Carlos tem um emprego burocrático. Sub-divisão três de marketing, assessoria do vice-encarregado de relações públicas. E por ai vai... vez em outra ganha uma promoção. Vive entediado. Revisa textos e relatórios que devem ser enviados ao cartório central. Funcionário número 125, o que é notável.

Todos os dias pega uma hora e meia de transito para chegar em casa. Não tem filho. Janta, vê TV, toma banho, não escova os dentes nem faz amor com a esposa e, dorme.

Há vinte e cinco anos ele trabalha na empresa, desde que terminou a faculdade. Na comemoração de dez anos ele pode dar um carro de presente à esposa. Difícil saber se ela é feliz... quais serão os subterfúgios da pobre [?] Dª Martha? José Carlos ganha um bom salário por mês em troca de seu trabalho inútil.

Todo fim de mês ele deixa metade desse dinheiro na buceta da Danielly.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

[subterfúgio dos prazeres póstumos]

Na manhã seguinte Akemi foi embora. Me sentei na escrivaninha, fumei um cigarro – ela esqueceu o maço – e em celebração a nós:


"SALTO 23"

O senhor é delator – por tudo que me falta.

Deitar-me faz sobre lençóis vermelhos, guia-me sutilmente em terras quentes e férteis.

Refrigera minha mente; guia-me pelas veredas surreais pela paixão do seu promiscuo nome.

Ainda que eu sobrevoasse o vale das sombras urbanas, não temeria bem algum, por que o mundo esta comigo; a minha vara (meu cajado!) os consola.

Preparemos uma farta mesa, para mim e meus amigos, unges o chão com vinho, os cálices transbordam.

Certamente que a impetuosidade e a paixão seguirão todos os dias de minha vida, e habitarei a casa do SENHOR por longos dias.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

[subterfúgios do vício]

Caminhou a passos largos se ela tivesse sorte encontraria ainda um parceiro que quisesse lhe dar algum prazer naquela madrugada quente, acendeu um cigarro, mas estava tão alucinada que não viu que alguém a seguia. Ainda tinha lágrimas nos olhos, mas uma parte dela queria muito se satisfazer, a outra ficava com sentimento de culpa por ter lavado o único dinheiro que Pedro tinha.
Roxelle estava desesperada, não sabia o que fazer. Aquela divida imensa, não poderia mais pegar grana emprestada de ninguém, aquele agiota a quem devia estava a jurando de morte, o dono da boca que ela era amiga, já não podia fazer mais nada. Ele precisava jogar de novo, o que fazer? Ah! O ingênuo do Pedro deixou a carteira bem ali, “não Roxelle”, ela pensava, uma voz interior dizia que ele era legal e que não merecia isso, mas ela já estava desesperada, é claro que Pedro não sabia de nada, nem imaginava o cara só pensava em gozar, só pensava nas suas pernas abertas e de preferência que ela estivesse de quatro e se ela gritasse melhor ainda. Então ela pensou: “Vou pegar a carteira dele ele vai ficar “puto”, mas “tô fudida” mesmo, e ainda posso dar um tempo, nessa neura que ele tem por mim.”.
A Roxelle era linda, cabelos negros e olhos verdes, pela muito branca e uma boca totalmente desenhada e rosada, um corpo de deusa com um pouco a mais de quadril. Mas depois que o jogo se tornou um vício altamente consumível de sua alma vazia ela se tornou opaca, sem brilho, mesmo assim Pedro continuava apaixonado por ela, mas ela não acreditava em amor, sabia que era carnal, de pele, sabia que ele gostava mesmo era de uma boa metida. Já não tinha muito o quê perder ela já estava cansada daqueles dias em que suas noites eram de bebidas e muita transa, ela queria é sentir o pulsar daquele adrenalina, aquele medo, aquela ansiedade. Na verdade somos tão pequenos que precisamos sempre de um outro vício, e Pedro já não fazia muito mais a sua cabeça. Gozar, isso era pouco, mais que cocaína ela queria o prazer de um momento entre seu parceiro e seu adversário e um trago e um olhar impassível.
Com lágrimas nos olhos ela deu uma ultima olhada no seu dom juan as avessas e fechou a porta para talvez nunca voltar.
Ainda sendo seguida as lágrimas rolavam, mas na sua sandice nem percebia.


M. Charm

domingo, 6 de abril de 2008

[subterfúgios dos cães e gatos]

Pedro – mais uma de minhas amizades hediondas – me ligou, queria beber. E difícil saber na verdade o que se pensa, o que se quer... o motivo das coisas. Meu novo objetivo tem sido este – encontrar um motivo para as coisas – um dia se deus quiser e o demônio permitir, uma vagina pulsante qualquer me convencerá que motivos não existem e se existem – são desnecessários.
Um botequinho podre, um conhaque, um disco do Jeef Beck seriam capazes de curar as profundas dores da alma do Pedro, seria... pois ele ainda não sofre de desespero e isso sim é alarmante.
Entretanto, ele preferiu me ligar.
Mais uma vez havia sido abandonado por seus vícios líricos.


[subterfúgio do tempo]

– Quantas vezes pode-se viver?
– Muitas.


[subterfúgio do tempo curto]

Nessa minha empreitada de anti-conselheiro charlatânico, descobri que antes do banho frio, é necessário preparar o corpo: dar pequenas salpicadas de gelo no pescoço.

– Alô...
– Alô, Santana... aqui é o Pedro.
– Deixa eu adivinhar. A morte está espreitando...
– Cala a boca! Alias, não se cale. Eu é que estou espreitando sua imprevisibilidade. Este mundo está uma bosta.
– Sim. O mundo é uma merda, mas viver vale a pena. O que está acontecendo? Apareça por aqui... arrumei mobília nova, uma daquelas mesas de centro da Leiteria Korova.
– Ladrão. Mas não é isso. Lembra da Roxelle?
– Lembro.
– Pois é, roubou minha carteira e sumiu.
– Não vai me pedir dinheiro emprestado né...
– Ih. Que nada: o roubo é só a ponta do iceberg. O problema é o abandono.

A essa altura Pedro estava mesmo precisando de um trago. Quem em sã consciência me ligaria as duas da tarde? O horário da profunda revolta. Mas enfim... amigo fodido é para essas coisas. Pedir alento a almas de artistas financeiramente falidas. Então pedi que ele aparecesse.
Bateu na porta com convicção. Através do olho mágico percebi os olhos fundos, a barba feita, o mesmo paletó há dias.


– Entra meu velho. Eu ofereceria bebidas se as tivesse.
– Tudo bem. Eu aceito um copo d’água.
– Claro. Senta aí.

Teve de tirar as revistas do sofá antes de sentar. Eu tive de lavar um copo. Quando voltei ele estava acendendo um cigarro. Ofereceu. Enchi a mão, acendi um e coloquei o resto na prateleira.

– O que a Roxelle fez? – perguntei.
– Tudo. Menos retribuir minha bondade. Você sabe que sou um homem íntegro. Quantos vícios eu suportei, atrasou desvios de personalidade.
– Bom, mas até aí, não tem nada de novo. Deixa eu adivinha mais uma vez. Você destrinchou toda a sua vida para ela e por ela.
– Aí também não tem nenhuma novidade.
– Certamente, mas você está equivocado em acreditar que não é culpado. Quem falou que fazer bem aos outros é garantia de sucesso. A história prova.
– E o que garante?
– Nada.


[subterfúgio comercial]

“o programa que está sendo exibido é uma produção independente, as idéias e opiniões nele expressas são de responsabilidade única e exclusiva de seus idealizadores”


[subterfúgio das cães e gatos]

– Procure pensar que não importa o que você ou ela fez... pense no que pode ser feito agora que a merda já se consumou – eu disse.
– Sabe o que acontece... você é um vagabundo, por isso não liga pra nada.

Deu um trago no cigarro.

– Ela me tratou feito um cão.

Agora ele já estava pronto para o banho. Caminhei até o armário e peguei dentro meia garrafa de wiskie que ainda sobrava.

– Toma um gole. Ela te trata como um cão porque é isso que você é.
– Mas um cão não merece amor.
– Não. Cães não têm dignidade para merecer nada que dure. Você já parou pra pensar no que disse? Já parou para observar o comportamento de um cão? Nem chega a ser digno de pena. É simplesmente uma vergonha. Basta o menor sinal de afeto para que saiam abanando o rabo e lambendo. Se a pessoa o ignora, ele não percebe, quando compreende. Seus sentimentos já se tornaram ridículos. Você é um cão e pode até demarcar seu território, mas isso não segura ninguém, ainda mais se for com outro cão que você estiver lidado.
– Não. A Roxelle não é um cão, mas eu sou. O que não facilita em nada a vida.
– Ninguém disse que é fácil. Mas certamente deve ser divertido.
– Está certo. mas sendo um cão e isso é fato. O que faço? Diga. Já que tem todas as respostas...

Toma mais um gole.

– O que você faz Pedro? O que você faz? Sabe qual é o subterfúgio dos cães, meu amigo.
– ...
– Viver na contramão. Negue sua condição canina, até se transformar num gato.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

[subterfúgios da sociologia]

O professor Fábio ministrava suas aulas com mais paixão do que parecia humanamente possível.Tinha idéia formada e argumentava.

– A antropofagia só existe na arte. Mas efetivamente a arte não é a cultura. É só uma representação da realidade, uma representação utópica, por isso, dentro do campo teórico desnecessária. A menos que vocês sejam humanos [têm estomago pra isso?]. E o que faremos? Choremos pelo imutável? Tornemos o sofrimento suportável e o prazer venerável...

Os alunos tinham receio de tal figura. Figuras de linguagem e figura anti-humana: que projetava palavrões a todos os “sins”. Figura de aparência arcaica, apesar do corpo jovem. Suas gravatas estreitas e mal arrumadas era o que mais chamava atenção.
Curioso que quase todos os dias alguma coisa o sacudia de sua existência cheia de pó. No dia de seu pagamento, estava tentando conter os pensamentos hostis. Saiu do caixa eletrônico; logo um mendigo sacudiu a canequinha – Pelo amor de Deus – O professor sentiu uma propensão a jogar, naquele momento, sua vida pelos ares, dar todo seu salário a ele, depois pagar o aluguel com esperma... esperma. Passou por seus pensamentos a idéia de dar um chute ou uma bela defecada na canequinha.
E o dia seguiu.
Mais tarde na aula, Carla o questionou. Primeira vez em semanas: não contendo a euforia Fábio caminhou até ela batendo palmas em câmera lenta.

– Queremos o fim. E o senhor o que diz? O que faz com isso tudo, cria suas próprias leis – disse Carla.
– Eu simplesmente vivo meu bem. O que mais eu poderia fazer? Subverter leis como você sugere... e se eu te dissesse que lei: é uma grande utopia. E muito mais que isso são obsoletas.
– E qual é a conclusão?
– Já disse. Lei é utopia e utopia é lei: o caos. É isso que estou dizendo ora! Se leis em todos os aspectos são para serem seguidas o que acontece então? Não existe. Pergunta; Se para toda regra há uma exceção, qual a exceção desta? Resposta; Exceção é a única regra. E mais... o que acontece se eu infrinjo uma lei. Aqui e agora... Gostosa!!! Quero te lamber toda! Uh... que cara de espanto... Deixa eu te dizer minha linda: os carros também batem quando estão no piloto automático. Os músculos tremem involuntariamente, os músculos tremem em todas as situações... E você. Ainda quer saber a solução?
– O senhor é louco...
– E a senhorita é normal. Normal.

[subterfúgio existencial]

Uma vazia mente me enche de tédio.
Nesses dias desconcertados, talvez Camões tenha razão, em “Desconcerto do Mundo”. Onde estará a nossa parcela de culpa?
Não quer ir buscá-la, e não quero ser centrada, preciso a margem.
Pára de achar que tudo é errado, algumas coisas são certas. Estão certas, mas eu estou ainda à margem.
Ah, não quero mesmo ser centrada, certeza!
Certeza? Como cravos e canelas?
Não gosto do gosto da canela do vinho quente e nem de cigarros de cravo.
Cravo seria um instrumento, como a minha mente medieval? Não vazia?
E a canela não seria aquela que eu bato na ponta de minha cama, quando acordo no avesso.
O avesso que legal, não é? Onde se esconde a risca de giz que o alfaiate usou para costurar tão lindo seu terno de veludo azul.
O veludo que é fetiche de minha mente, ainda vazia?
Não acho mais o tédio impreciso de minha mente a vagar entre tudo isso.
Será mesmo vazia?

Milla Charm

quarta-feira, 2 de abril de 2008

[subterfúgio de cravo e canela]

Boa noite senhoras e senhores... Os felicito.

“hoje eu abandono os pavimentos e abraço a terra”

Não tenho pretensão de ser policarpo, nem o estimo tanto, porém o respeito. Hoje me sinto abraçado por um mundo vermelho cheio de amoras. Como um casal de namorados que passeiam na quermesse no início de uma noite fria e clara de outono, tomando vinho quente e fumando cigarros de cravo.

terça-feira, 1 de abril de 2008

[subterfúgio lotado]

[subterfúgio lotado]

São Paulo, 21 de Janeiro de 2007.

O metrô lotado fiquei pensando por quê? Tanta gente pra lá e pra cá. Aonde vão? O que pensam? O que fazem? Que medo, de repente poderia ter por ai um sociopata, não é mesmo? Com tantos traumas que levamos, essa pessoa ai do seu lado pode ser uma.
Dureza, ainda pegar todo esse transito de gente e ficar o dia todo em frente daquele “help-desck”. Naquela sala abafada e escura, e as pessoas esquisitas que ai estão para ganhar um tipo de esmola pelo seu trabalho. Ainda me livro disso, quase falei em voz alta e um companheiro de sela fez uma interjeição tipo “Hãam?!”, dei um aceno rápido com a mão, não quero contatos com ninguém hoje. Estou reclusa. Aliás, sempre reclusa, não consigo simplesmente chegar e conversar. Senti falta dele, ele sim me entende, é esquisito também, lógico não poderia atrair ninguém normal, não tem nada de normal nessa terra subversiva. Quero uma tequila estou cansada dessa monotonia. Mas preciso desse empreguinho de merda, ganho pouco, mas dá pra pagar o “cafofo” e ainda sobra uma grana pra tequila. Hora da alforria e sempre uma alegria, se alegria houvesse realmente para rimar com isso. Corri o mais rápido que pude, ainda tinha que passar na Galeria e tentar convencê-la de ficar com aquela obra, mas ela já tinha me dito que não a queria lá, era muito fora do contexto de suas peças, não entendi, achei que era pessoal. Mesmo assim fui mais uma vez lá.
Empurrei a porta e senti o cheiro daquele incenso de tangerina, me deu certo enjôo ainda não havia comido nada saudável naquele dia, a não ser um pão de queijo e um café puro, a sineta da porta tocou e observei que talvez ela tivesse limpado os vidros, pois achei a sala mais iluminada. A arrogância com que me tratava parecia algo além de minha compreensão, mas precisava dela não conhecia mais ninguém que pudesse vender minhas esculturas, e gostava do pessoal que ali freqüentava. Está certo que não era nenhum “Rodin”, nem um “Aleijadinho”, mas gostava de minhas peças. E apreciava lugares assim, não dá pra ficar na mesmice e sempre estava na procura de algo diferente.
Foi quando eu esbarrei e derrubei tudo que ele estava nos braços.
- Ah! Desculpe, me desculpe sempre tão distraída. Falei.
Abaixamos para recolher aquele monte de folhas. Pareceu-me bem clichê, um encontrão e de repente um olhar diferente.
- Não foi nada, você me paga um café e estamos quites. Ele disse.
Acho que na hora corei não me lembro direito. Alguns minutos se perderam até eu voltar no meu ritmo, realmente precisava de um café e rápido.

Milla