domingo, 27 de setembro de 2009

[subterfúgio evolucionista]

Willian era um menino da terceira série que tinha hábitos comuns; jogar bola; levantar as saias das meninas; dizer palavrões que deixariam até os adultos mais promíscuos de queixo caído: Estava apaixonado. Sim paixão. Desde o ano anterior. Uma garota da Quinta F, a mais linda pra variar. Willian era bem conhecido pelos funcionários da escola, o que facilitou colocar seu flerte em prática. Permitiram que ele entrasse na escola dez minutos mais cedo. Ele correu até a sala dela e deixou um recadinho na lousa:

“Menininha que floresce,
Me deixa louco de tesão.
Se te pego Carolzinha,
Arrebento seu rabão.”


[subterfúgio qualquer]

Na última semana Carlos e Yasmin se reencontraram, já não se viam há três semanas, Carlos foi visitar Yasmin, pois era aniversário de sua filhinha. O café estava bom. Sentados à mesa relembraram de quando eram duas crianças e olhavam para o mundo com o encanto e inocência. Correndo no mato procurando a procura de fantasias sem nem ao menos saber disso. Contudo, é preciso fazer mais café. Lembraram-se de fatos Kafkianos da vida: brincavam no quintal de terra batida e olhavam para a casa da vizinha, que inevitavelmente, durante sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia lavava ruopa naquele velho tanque encardido.


[subterfúgio da saliva]

Começo de ano, sempre demora em as coisas se acertarem entre professores, alunos e direção. Era hábito na E.E. Odorico Paixão os aluno entrarem na sala antes do professor. Todos os alunos da Quinta F estavam impressionados com a beleza da poesia, estavam também curiosos para saber quem seria o autor da obra em questão, inclusive a Carol sob o pressuposto que o autor seria um professor, ou um dos alunos maiores. Alguns mais espertos brigavam pela autoria da obra. Em meio aos questionamentos chegou em sala uma nova professora. Está simplesmente foi até o quadro, apagou a obra prima e escreveu em letras grandes o próprio nome – ANA CAROLINA – como não poderia deixar de ser... um maléfico ar de fudeu! Tomou conta da turma.

– Bom dia crianças.
– ...
– Bom dia crianças.
– Bom dia professora. [em coro falhado]
– Estou começando hoje nessa escola e pelo visto vamos nos dar muito bem, não tenham medo. Vou dar aula de biologia.

Se ela tivesse chamado o diretor Walter logo poderia ser que o sofrimento fosse menor – pensaram os alunos. O diretor Walter era temido por sua fama de rígido. No primeiro dia de aula a professora não tocou no assunto. O que deixava os alunos ainda mais apreensivos. A professora estava a cada dia mais descontraída. O que fez com que os alunos ficassem mais calmos. Até nos corredores o boato já havia se acalmado. Mas Willian ainda permanecia a espreita, ele era obstinado. Uma semana depois do ocorrido, ouve um novo ataque do poeta misterioso para desespero de toda a Quinta F, dizia o seguinte:

“Carolzinha que rebola,
Deixa eu doido de tesão.
Não fuja da minha mira,
Que te como até no chão.”

Ass: W.


[interlúdio do chão]

Porra, as realidades kafkiana insistem! Olha que não é só durante a infância. Há uma família que mora na rua detrás aqui de casa, é formada por uma mãe [eventualmente] solteira, Débora. Ela tem, creio eu, uns seis filhos. Dia desses ouvi numa conversa de bar, dias depois que ela tinha dado a luz: – sabia que a Débora ta grávida – não, ela já ganhou – sim, mas já ta grávida de novo. Porém os Kafkas pós-modernos são os filhos dela, o garoto do meio, tempos atrás estava espalhando o terror pela vizinhança: tem invadido as casas, no quintal da Dona Maria ele arrancou todas as roupas do varal, as jogou no chão, e por cima despejou todos os produtos de limpeza que encontrou! Por isso eu digo: Kafka não era louco!


[subterfúgio da autoria]

Ninguém se atreveu a apagar antes que a professora chegasse. Ela leu o versinho e perguntou. – Ah! Agora estou curiosa... tem algum corajoso aí? – mesmo que quisessem denunciar o apaixonado, não poderiam fazer nada, afinal não sabiam mesmo quem era o autor. Sem aparentar o menor descontrole, ela foi até a porta e falou algo com a inspetora gorda. Cinco minutos mais tarde o diretor Walter estava na porta da sala. Cagaço geral. A professora Ana Carolina muito calma o chamou para dentro da sala. Este entrou fechando a porta atrás de si.

– Sim professora. Qual o problema?
– Nada sério. Ocorre que temos um grande poeta na sala sabia? Porém ele é tímido demais para se identificar simplesmente assina por W. Mas não se preocupe são poesias lindas. Infelizmente precisei apaga-las para por a matéria na lousa.
– Bom. Da próxima vez que ocorrer me chame para ver antes.
– Está bem, mas estou curiosa... todo poeta merece um premio...
– Ah... se é assim não se preocupe. Garanto que o poeta aparece... disse que ele assina por W?
– Exatamente.
– Então espere um pouco. Dá para fazer uma triagem. Abra aí o Diário de Classe... vamos ver, W, W, W... não. Ninguém que comece com W. Puxa vida! Nunca fui poeta. Olha a chance de ganhar um premio sendo desperdiçada aí.

Neste momento a sala murmurou alguns sorrisos irônicos e respirou um pouco mais aliviada.

– Tudo bem muito obrigada seu Walter. O manterei informado.


[subterfúgio da educação]

...Havia um casal transando, ela perguntou: estamos fazendo amor ou sexo?, sexo, ele disse. Ela disse: ehgr, não gostei da resposta mas vou continuar....


[subterfúgio do tempo curto]

O dia seguinte foi um dos dias mais memoráveis de toda a história da E.E. Odorico Paixão. Os alunos da Quinta F foram chegando sala e ficando de boca aberta vendo a cena que no ano seguinte renderia muitas transferências para a E.E. Odorico Paixão.

A professora estava deitada na mesa com um vestido florido erguido até os ombros. O diretor Walter completamente nu e coberto de suor, penetrava-a num ritmo desconexo e mesmo assim prestando muita atenção no que fazia. Enquanto ele se dedicava a seu pseudo-papel de macho dominante, ela repetia em voz baixa como num mantra:

– Perdeu o medo né seu viado...



Boa noite!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

[subterfúgio da capacidade]

Nunca teve muitos escrúpulos, cinismo era parte integrante de sua personalidade, arredia, teimosa, mas encantadoramente linda, seu sorriso iluminava um quarteirão, com o dom da palavra ela sabia que com alguns argumentos fundamentados ela convencia todo um juri.

Em um scarpan preto com um talieur cinza chumbo e muito bem maquiada, chegava ao fórum meia hora antes da audiência, sempre, passava no banheiro, retocava o batom carmim queimado, olhava no espelho bem no fundo de seus olhos respirava e dizia 'esse juri hoje é meu'.

Autocontrole era sua palavra, mas só ela sabia o que tinha que fazer para sempre estar em cima do salto, muitas vezes escondia toda a sua vontade, mas respirava fundo e ia.

Encontrou seu cliente e teve vontade de fazer cara de nojo, ele era patético queria sempre ganhar pelo meio mais fácil, o suborno, Suzana não aguentava mais isso, era demais para ela, e pior ela sabia que ele continuaria fazendo que sempre fez, ela pensava 'as pessoas não mudam'.
Entrou na audiência e começaram os trabalhos e a palavra era sua, levantou olhou para todos, fez cara de nojo para seu cliente, fez um cumprimento breve para seu chefe que estava assistindo, fechou sua pasta, colocou dentro de sua valise, pegou sua bolsa e saiu.

Pessoas não mudam, ela pensou, então descobriu que nunca servira para isso.