terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Vó Creuza

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"Amou daquela vez como se fosse o último 
Beijou sua mulher como se fosse a única 
E cada filho seu como se fosse o pródigo" 


Pois é irmã, Omar só pode estar é ficando doido mesmo. Já num bastava as cachaças que tomava, agora deu pra ficar valente. Olhe, eu oro, oro, oro; em nome do Senhor pra que esse homem tome juízo. 
Tu já sabia como era a bebedeira né? Já sabia. Pois depois que o Piauí botou aquela barraca de DVD o homem endoideceu. Deu pra comprar os filmes do Bruce Lee, um atrás do outro, e é assistindo aquele diacho a tarde inteirinha, não faz barba, nem banho mais quer tomar, diz irmã: eu aguento?Toda hora faz a menina chorar, a pobrezinha querendo ver desenho, toda vez que ela chega perto apontando pro seletor da televisão, ele faz que vai dar um caratê, irmã. Já não sei mais o que fazer com a bichinha. 
Olhe, semana passada o desgraçado, deus que me perdoe, chegou bêbado e quebrou quase todos os tijolos que comprei com seus golpes de caratê, e dando grito o tempo todo. 
Tu lembra né? Tu lembra da época que a gente achava ele bêbado lá nas catacumbas? Pois é, inventou essa moda foi depois que cansou dos discos do Raul Seixas, já não sei mais irmã, lembra como foi boa aquela época que ele também foi pra igreja? Estava até lendo irmã, lendo a bíblia. 
E agora? agora é o jeito pedir ajuda pela misericórdia de deus. Quebrou a vassoura, arrumou aquele nunchaku e foi sem camisa, dar uma de lutador lá no bar do coisa linda, e deu no quê? Apanhou de não sei quantos... agora está lá na cama, todinho ferido, e ainda fica contando vantagem pra aquele bando de vagabundo que ele chama de amigos.

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Fanfara

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"Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim.
Ai meu bem, não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração!"

...glock, glock, glock...

Orlando possuia uma Rural azul celeste e isso lhe rendia os mais interessantes e improváveis convites. Sexta-feira véspera de carnaval de 83 Zé Macedo e seu cunhado Juca bateram na porta de zinco do barraco. Levaram até ele um trabalho inaceitável que ele aceitou. E assim sendo, naquela tarde, carregaram a rural. Era sofá, geladeira, pano de chão, sacos pretos com conteúdo misterioso, caixas com LPs de Sara Jane e Amado Batista, sapateira, 13 quilos de alimentos perecíveis, e o diabo a quatro.

O destino era Praia Grande.

Finalmente após seis meses de distância, Zé Macedo iria rever Cileide que cuidava do ninho.

...glock, glock, glock...

A recepção entraria para história. Pytu com caranguejo à vontade. E entre um trago e outro, havia efusivos beijos de amor, mão na teta, mordida na nuca, apertão no pinto, tapa na bunda e mão na priquita. O palco até então, era a budega de seu Vicente, que temendo por seu património espulsará os quatro antes das 20:00 horas.

 ...glock, glock, glock...

Desceram pra praia. Nas incursões entre quiosques e o mar, perderam Juca. Porém como saldo positivo, ao chegar em casa perceberam que agora dispunham de um cachorro, duas garrafas de ParaTudo e uma marmita com frango.

Despencaram feito a realeza.

A palafita onde o futuro casal residiria carecia ainda de ajustes. As lâmpadas oscilavam, a torneira pingava, havia frestas e os maderites não chegavam ao telhado, o que punha em dúvida o quanto tal choupana oferecia em privaciade. Mas a questão é: e quem se importa?!

Naquela noite Orlando tentava encontrar o sono, estendido no chão da cozinha sobre a lona que ele tirara da rural... enquanto ria-se e ao mesmo tempo ficava cabreiro,  ao ouvir o som da gulosa interminável que Cileide aplicava caprichosamente em seu macho.

...glock, glock, glock...

Certamente ja passava da 00:00 hora. Orlando lembrava de sua mulher. Contas pra pagar. O diacho do menino que parecia estar virando baitola.

...glock, glock, glock...

Olhou o relógio, 01:47. E nada. Ouviu Cleide esbravejar: goza logo homi! termina nunca?

Pobrezinha pensou, o bicho com o cu cheio de cachaça...

...glock, glock, glock...

Pensou na salvação e na danação eterna, a hora do arrebatamento. A mãe que nâo via a 13 anos. O Chacrinha e a Terezinha.

...glock, glock, glock...

E perdido em  sonhos de libertação adormeceu.



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domingo, 29 de janeiro de 2012

Canção Batida

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até aqui, sorrisos, canções, mojitos e cigarros. 

mais ali, calor, amor, cadência. 

e no depois, se observam. 

- o que há nos teus olhos? nos meus já não sei... 
- há existência. pura e simples. 
- e há também solidão eu sei. também há em mim. e não me importo. alias, sou muito apegado a ela, me faz bem, meu bem. vejo a maioria das pessoas exigindo as vezes o direito de ficar só. já eu, eventualmente preciso de companhia, eventualmente preciso de sexo...  
...mas o sexo, até hoje tem sido o orgânico, então não é problema.  agora, raramente, preciso de amor. tudo se mistura e dá um nó e, mesmo assim, mantenho a serenidade... 

olhou e viu que ela adormeceu. lhe tirou os cabelos do rosto, apagou o abajur e a acompanhou.




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Você já desistiu de seus sonhos, 
só não percebeu ainda 

escolheu não ser mais artista, escolheu não ser intelectual. estudou as letras e esconjurou. até hoje, procura esquecer, a vida é assim, aprende-se pra depois esquecer. 

haroldo girava sobre seu eixo numa ciranda permanente, intermitente, continua. 

cimento, com o ferro, maçarico, fogo, cuia, com o solvente e o zinco. hoje sua cervical se orgulha de estar sendo usada em sua totalidade. 

sua vida é despretensiosa. ri por não ser ninguém, e afortunadamente, está certo. haroldo não é um sujeito. haroldo é apenas um lugar e um local, demasiadamente humano e ignorante, onde as coisas acontecem. 



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sábado, 21 de janeiro de 2012

Frases soltas ideias nem tanto

Ela dizia não, mas seu corpo contorcia em um sim...

Era manhã de domingo e ele estava feliz por ter apenas acordado. Já na madrugada seguinte ele queria se jogar do décimo andar --Chamou Samanta de Sonia

Sua lágrima não era mais salgada...agora era meio doce...será diabetes?

Refez o caminho pra ver se encontrava o que perdeu...ninguém perde o que não tem.

Mais uma vez acertava 3 números na mega sena...quase sorte no jogo, significa o que mesmo?

E agora? o bom e o ótimo viraram inimigos mortais...

Dizia que o tempo ia mudar, qual tempo? Aquele que você me deu?


sábado, 14 de janeiro de 2012

E. A.

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- meu nome é jair,
- oi jair.
- tenho 26 anos e sou viciado, não escrevo ha 182 dias...






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Nasceram Flores

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naquele dia desde cedo lhe surgiu uma estranha coceirinha por cima da orelha esquerda. uma certa dormência.

jana usava um vestidinho bem curto. caminhava contendo-se, parecia recear que a priquitinha de repente saisse voando. não que se importasse se a pombinha batesse asas e voasse. mas não daquele momento, não era esse o tipo de glória que ela gostaria que ficasse em sua memória.

mediu com exatidão na mão a quantidade de creme pra pentear, durante o trajeto foram exatas145 olhadelas no espelho para conferir o visual. chamou a atenção, cada uma delas, uma pequena veruguinha, que aparecia e crescia ali, no local da dormência, agora promovida a ardência. respirou fundo: abstráia memina, ainda tô gostosa.

e agora no palco do seu raul gil, chegara o momento de sua revelação para o mundo. escolheu a dedo a canção. tamanho bom gosto, não foi o suficiente prara driblar as vontades e duvidosas dos jurados.

e em seus passou resignados em direção a cochia é que realmente lhe descobriram. lhe nasciam flores.

nasciam flores.




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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O menino das pétalas pretas

Já há algum tempo eu estava ansioso para pegar a menininha na porta da escola, como tinha prometido...

Agora, tudo que eu consigo me lembrar é a cena.


[saída temporal]


Eu não deveria ter chamado seu nome... Eu e essa minha mania de fazer alarde sempre dá nisso. O fato que na hora em que cheguei, ela estava de costas, com os cabelos amarrados feito um rabo-de-cavalo, os livros numa mão. E com a outra mão ela segurava a mão do menininho, que conseguia ser ainda menor que ela...

E como ele era frágil e belo, parecia um anjo sendo cuidado pela minha garotinha...

Um menininho todo feito de pétalas de flores pretas... Parecia até sonho, eram flores de fato, não que eu precisasse de confirmação, mas só pra registrar, eram flores de fato. Ele nem se mexia. Ela o segurava pela mãozinha como se fosse feito de cristal.

Se eu fosse mais calmo poderia me aproximar primeiro sem evocações, (uma coisa tão simples, tão pura, não resiste a isso) e sentir seu perfume, junto à garotinha... Mas esses meus vícios provocam isso, deixam as atitudes fraternais sempre no campo das idealizações... E eu já há algum tempo prometi não me martirizar, porém de ser patético eu não escapo.


[regresso]


Eu chamei seu nome e na hora que ela se virou e soltou sua mão. Ele caiu pra frente, relativamente sólido, como uma flor que desabrochou há pouco e desmanchou... Agora o vento se encarregará dele.

Enfim... Enquanto a garotinha me olhava, tudo que eu podia fazer era olha-lo. E lamentar.






outono de 2007





quarta-feira, 4 de janeiro de 2012






"irmãos, a buceta não vale o esforço que fazemos"



gritava desembestado o pastor Oséas na praça Lauro Gomes




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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

cartas

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Fiquei durante um bom tempo prevendo esta carta. Possivelmente a última. E eu sei que agora é o momento, o que não significa que eu tenha certeza que as coisas vão dar certo ou errado.

Estou realmente cansado. Não é uma queixa, é um efeito colateral.

Também lhe digo essas coisas porque faz tempo que você não se faz presente e eu não a culpo, alias, como eu poderia culpa-la, é o melhor que faz.

Pois a ausência foi um ponto importante, pelo menos pra mim, foi aí que eu pude entender,.A resposta seria sim ou não. E foi o não. Isso me chateia um pouco. Mas nada insuportável. E isso tem um lado bom também; desci da corda bamba. E agora, aqui de baixo, posso contemplar o que houve.

Aconteceu o seguinte.  Você tornou-se minha heroína pessoal, por mais estranho que isso pareça, sei que é bem possível, quase certo que você não aceitará tal condição. Mas eu não fiz isso de propósito, primeiro eu senti medo de que fosse um estranho tipo de obsessão que estivesse surgindo em mim, mas depois de um tempo, um longo tempo, foi que eu compreendi que era simplesmente um caso de admiração crônica.

Pois é... eu também não sei como isso foi acontecer... logo eu, que não acredito em heróis.

Mas no presente não você precisa se preocupar com todas essas coisas; não sei por onde você anda e isso evita que eu cometa mais alguma bobagem. E agora eu pretendo acalmar meu peito, pois deus sabe que meus motivos nunca foram nobres. Isso também não aconteceu de propósito, um certo dia eu cansei de ser que era, então projetei uma nova vida livre de sofrimentos, só que o mundo é assim: muitas vezes pra alcançar a imaginada felicidade acabamos por corromper nossas almas. E quando acaba um ciclo, fica tudo gravado.

Por isso chegou a hora de eu me calar, assim eu evito machucar alguém.

Desejo-te toda felicidade que for possível e deixo aqui o beijo que nunca aconteceu.

Adeus.


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Era a semana de seu aniversário.

Chegava em casa  tarde da noite, viu uma cena que não era inédita, porém dessa vez ele – a viu de fato. Três rapazes encostados conversando, uma esquina antes de sua casa. E um cão o encarava, Não nutria nenhum medo em especial por cães, nem pelos rapazes.

Fábio se aproximava dos rapazes. O cão notou sua presença, alerta. As orelhas se viradas para a frente, a cauda em riste, notou-se o peito inflar, aspira rosnando e respira com um latido esganiçado e alto. Projeta o corpo para frente repetindo e projetando o peito, de acordo com o rosnado e o latido/

***

Nos últimos tempos esteve meio cansado, a rotina do banco já havia sido automatizada, nem assim ele perdera o gosto por trabalhar ali. O que o cansava mais eram os estudos, apesar de gostar das aulas. As provas estavam tirando o sono.

***

Fábio era honrado de nascença, e inteligente. Aos vinte e um anos trabalhava no Unibanco, começou como continuo. Fez carreira, como auxiliar tinha um futuro promissor. Entrava as oito e saia as seis todos os dias. Constantemente levava trabalho para casa. Mas tudo valia a pena, era um grande investimento.

Estava no segundo ano de ADM, conseguia ser um aluno mediano. O que era bastante razoável tendo em vista o quanto trabalhava.

Isso era possível em virtude de sua intuição para

´a vida.


Carla cobrava mais de tempo do rapaz. No fundo ela o amava e sonhava com o futuro brilhante. Mas acima de tudo ela lhe confiava e sabia que se ele dizia que tanta dedicação era importante. Os pais sabiam que não tardaria a emancipação. Sentiam orgulho.

***

/avançou até a perna do pedestre, com o objetivo de fazer o maior estrago possível.

Fábio o encarava, estudadva, andava devagar, como costumava fazer nesse tipo de situação só que dessa vez as coisas não ocorreram exatamente dessa forma. O cão avançou mais do que o esperado e mordeu seu tornozelo – os rapazes observavam – chutes brutais. A luta corporal se seguiu até que Fábio conseguiu dominar o cão.

Cravou os dentes no pescoço do animal, rasgando suas vísceras, mergulhou na hemorragia, até a morte – os rapazes observavam – sentia os nervos em sua língua.



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domingo, 25 de dezembro de 2011

mermão

então mano... eu tava procurando uns aliados por aí... mas aquelas minas, tá ligado, era tipo umas artista-puta profissional. aí é demais pra mim né? quer dizer... essa minha arte deve ser, meio que, amadora por excelência, tá ligado. essas aí que eu achei tão até dando entrevista pro jô e tudo mais, e não quero isso tá ligado? sou dono de um tipo de talento muito mais genuíno... mas é phoda, a pior parte é juntar as parceria, porque, tipo: eu também quero dá uns fight... e até dou, mas geralmente é sem licença poética, e isso aí faz a maior falta... e sempre, sempre que eu arranjo uma foda firmeza, no final a mina fica com aquela cara de parva, como que esperando que eu vá fazer algo surpreendente incrível ou dizer algo genial, porra sou só um cara e, com o pau já mole... cá entre nós mermão! elas deviam se ligar que a graça é essa: poder ser, depravadamente inteligente e, ao mesmo tempo, deliciosamente burro. ou tô errado?



domingo, 11 de dezembro de 2011

nos ultimos meses tenho feito trabalhos pesados e isso tem me deixado satisfeito. só que, mesmo assim, ora em outra eu acabo me disculpando por isso. ergo uma marreta de dez quilos centenas de vezes por dia e a descarrego sobre os outros, esse chão que deus criou.

tomo café incontaveis vezes ao dia e meu amigo Sergio me aconselhou a me alimentar melhor. não sei se posso, quero, ou tenho motivos pra isso.

todos somos em parte patéticos. o que nos alivia um pouco é lembrar que essa não é uma condição exclusiva. há sempre bons momentos, que ficam para história. sei que hoje sou uma pessoa melhor, já não anseio tanto pelo futuro. e o contrasenso é que parte de mim, nem pensa em festejar por nada, mas há outra parte que comemora por cada gato que agarra um rato.

parte de mim deseja amar desesperadamente como a marreta que decompõe do solo. dançe para mim mais uma vez, não me importo com a dança, mas amo essa tua liberdade.

o restante não deseja nada.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um tempinho




meus passos são largos. e desliso pela rua feito um veiculo monotrilho.

a maior parte do tempo não admito e, também não acredito, não sou um artista. e mesmo que fosse, não mudaria nada. mas o fato é que o sou e devoro tudo o que produzo antes mesmo de pôr pra fora.

desco a ladeira preparando um banquete, como-o. e me ofereço um cigarro de sobremesa.

***

tenho muitas vidas. hoje tive a oportunidade de ser um idolo, cortar o rebanho, me esquivando ao máximo. voce não é capaz de imaginar o prazer que sinto em desviar de suas mãos. uma chuva de glória, é despencar no abismo celestial, roçando em sexos de anjos sem precisar se importar, pois é deus e, os criou com esse único propósito.

***

estou cansado.

***

e num passe de mágica, me refaço.

ora volto e revivo todas as coisas belas que ja recebi. todas vocês. foram e são a alegoria e a cor da minha existência. e eu fiz boleros. as mulheres que dançam, que sorriem, esbravejam, que se aconchegam, que enlouquessem, que se vestem e perdem as calcinhas, que cantam, choram, e compõem, são metade de mim. a outra metade foi antes de vocês, antes mesmo de mim, a outra metade era só a beleza viva, de uma juventude que jamais terminaria. beleza sem motivos, nem pretenções, ou intenções. beleza em estado bruto, que uma simples palavra, o nome das coisas, seria capaz de desvirtuar.

sim acabei de devorar tudo.



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

de segunda a sexta vou ao trabalho e faço tudo que se espera para parecer uma pessoa normal. em casa há um capitulo que cabe a compreensão da minha família, está sabemos ser uma relação, parte afetuosa, parte por conveniência.


hoje tenho 26 anos e uma vida cheia de confluências e intercessões.


hoje pensei em muitos que cruzaram mau caminho direta ou indiretamente e nas resoluções de suas vidas, por hora.


são duas da manhã e eu nem sempre me suporto. fico feliz que alguém tenha inventado os cigarros.


o  sono não vem. tenho a tv, tenho internet, tenho leitura e, por fim, o que me basta é a luz acesa, o restante de um caderno velho e mais uma tentativa de ser sincero, mesmo que para isso seja o mais cafona, o mais brega do mundo.


sei que os defeito, falhas e necessidades ainda estão aqui, não penso em nega-los, mas por outro lado, o X da questão é que não vou tentar transformá-las num tipo de ostentação decadente.


existem coisas que são decadentes por si próprias e estão em mim e, por mais que eu lave a pele, jamais vão sair.


hoje tenho 26 anos e, se é pra ser verdadeiro eu já aprendi, já sei de algum tempo de algumas coisas: o sexo não vale tanto quanto eventualmente eu faço alarde, eu sou um item que se emprega no mundo usando de uma forma auto-obsoleta-planejada e, a unica diferença entre mim e os outros homens é o meu lirismo, que trabalha criando um simulacro, um sanduíche, uma ceifada de realidade, uma mentira aceitável.


e o que eu quero? uma companhia de verdade, que me dê um lampejo de novidade que baste e valha pelas horas que se vive. no fim, paro de escrever e volto a encarar o infinito. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A máfia dos artistas mirins


Devemos aceitar e acreditar, na necessidade e verdade de tudo que nos cerca, mesmo quando tal fato ou necessidade não são reais.

Sim. É claro. Convêm-te dizer isso hoje. Eu não estive e não estou preparado.

Sim? E que culpa eu tenho? Até então você se vangloriava de ser simplório. Não percebe que é um cão pedinte? E certamente, há uma verdadeira poesia nisso. Mas nem todo poesia será eternamente sublime. Há algo mais poético que o diabo?

Concordo. Tenho manias inacreditáveis.

Você criou um mundo fantástico que ninguém mais poderá habitar.

&

Desceu do ônibus e encontrou a simpatia na forma de uma jovem. Jovem que flertava por hábito.


Olá como vai?

Tranqüilo...

E aí? Ta fazendo o que?

Só indo pra casa.

Encosta a cabeça no obro: quer-me?

Onde?

Há certo receio. Aquilo não era correto, quisera ele, já há tempo abandonar esse moralismo que sabia não ser seu. E ele nunca o fizera seu de fato.

Em casa. Moro aqui perto.

Sim. Vamos.

Na casa havia uma festa. Um grupo de jovens num sofá, outros na cozinha preparando bebidas, gente em pé encostada na parede, tantos outros fumando no quintal. Mas não viu ninguém, ninguém o viu. Ele somente era conduzido e, mesmo assim, a perdeu. E isso o fez perder-se também. O que mais o incomodava era isso, ela nunca seria significante para ele. Logo: pouco importava. Saiu à caça sem ter fome.

Acordou.

&

Houve tentativas, mas ninguém o suportou. Diga-me: tem paciência de viver com deus? Ou culhões de suportar o diabo? Qualquer meio termo não vale a pena.

Fecha os olhos e vê.

Fecho os olhos e não vejo mais nada.

domingo, 9 de outubro de 2011

lira dos vinte e poucos anos


Cronicamente havia noites que eram mais agradáveis. Puxou a fitinha, abriu e tirou o primeiro cigarro do maço. No bar, Amanda era uma presença que figurava entre o maravilhoso e o divino, não que houvesse nela nada de extraordinário, mas sua existência, por si só, irradiava outras. Outras existenciais que viviam dias improváveis, milhões de existências de vinte e poucos anos.

Ele falava de política, ela de burritos. E, mesmo assim, tudo tinha uma dinâmica, um ritmo perfeito. Ele tinha uma recente história de elegantes, excêntricos e irônicos acontecimentos que o deixavam perplexo, mas em sua juventude de espírito sabia guardá-los para o dia que fizessem sentido.


Notícias de uma noite agradável qualquer


Já estavam na terceira dose de tequila, intercaladas por suquinhos de caju. Preferiram de comum acordo subjetivo guardar o melhor para o final.


O amor


Levantou-se as oito após uma noite de extravagâncias, felizes feito um demônio que corrói uma jovem. Banhou-se demoradamente e saiu. Na padaria tomou café e pediu um pra viajem para ela que ficara dormindo, na volta passou na banca e comprou o jornal. Sentia uma ultimas palpitações sexuais, um tipo de ressaca.

Chegando a casa ela estava no banheiro, passou direto e seguiu pelo corredor, recolheu a roupa usada e colocou na máquina, na volta se deparou com ela já na cozinha.

Um traseirinho flácido e pálido permanecia sem calcinha e encoberto por uma calça muito vagabunda de malha, já rota, desbotada e com alguns furinhos aleatórios. Nos pés uma chinelinha havaiana que, conforme ela andava faziam um chiadinho característico. Como que por surpresa e ela o recebeu com o olhar, espreguiçando-se ergueu o braços já levantando os cabelos em um maço único na nuca, deixando-os posteriormente cair sobre os ombros.

Andou displicentemente pelo piso da cozinha cujo esmalte já descolava e o abraçou a cintura.Naquele momento, pela primeira vez no alto de seus vinte e três anos, Daniel broxara.

fábula batatera

Josinete sempre fez o tipo moderninha. Piercing no imbigu, tatugem de tribal na barriga. Orgulhosamente os exibia todo verão passeando pela praça Lauro Gomes. E, ouvindo gracejos lançava olhares furtivos aos transeuntes do sexo macho, independentemente de credo, orientação política, condição financeira ou qualquer entrave do gênero.

Moderninha que era, guardava entre seus tesouros de cigana o CD autografado de seu grande ídolo, Felipe Dylon, cuja glória, ainda hoje, irradia o coração da jovem em questão.
Eis que, numa noite de quinta seu coração palpitou ao vê-lo de figurante na novela das oito. Este ostentava dreads de quase um metro cujo o cheiro, certamente pode-se presumir: suspeito.

Neste exato momento Josinete teve uma resolução.

O pessoal do Afroblackniggahair conseguiu momentaneamente dissuadi-la da idéia, seria impossível que cabelos já tão surrados por anos de abuso de alise & tinge suportassem tal procedimento.

Mas esse povo metido a sabichão nem imagina o nível de malandragem que Josinete é dotada e, hoje, contrariando todas as expectativas, a praça Lauro Gomes ganhou um novo ornamento. Belos e esvoaçantes dreads de buceta.

domingo, 25 de setembro de 2011

10 PAIXÕES


Compreendo que você não goste de mim. Afinal também não gosto de você. E não tenho motivos nem justificativa pra isso. Aceito isso com tranqüilidade e sei que do seu lado é igual. Isso é um mal necessário.

Sim eu te amo. Sei que nunca será recíproco. Alias cada um tem sua forma. Eu me sujeito de peito aberto aos teus mais ínfimo s desejos em troca de nada. E assim me sinto realizado feito um cãozinho.

Tudo bem. Um dia eu aceito me aproveitar de você, de sua paixão, mas apenas quando me convier. Sabemos que você vai se apegar e eu terei de rechaçá-la. Você voltará para seu lugar e de lá, você esperará novamente outra oportunidade.

Gosto de você e sei que sente o mesmo, mas, por favor, vamos aceitar logo de uma vez que isso é apenas uma questão de conveniência. E que quando não for mais necessário, nos afastaremos.  E quando, eventualmente nos encontrarmos, não tente incriminar ninguém.

Sejamos francos e concordemos logo de vez que a única razão, o único sentido em nossa convivência é o sexo. E concordemos também que o sexo tem prazo de validade. E prorrogações só se forem à base de drogas. O que, evidentemente, é uma possibilidade.

Sim eu aceitaria passar o resto da vida contigo, mas isso apenas sob condições que seu que você não poderia aceitar. Você pode não ter idéia, mas um dia vou me cansar, de sua bondade, sua limpeza, sua fé inabalável.

O fato é que simplesmente, não posso ser sincero com você. Por que motivo, eu me pergunto, deus a criou tão deliciosamente perfeita. E essa é uma oportunidade que não posso perder. Mesmo que pra isso eu rife o que tenho de mais valioso.

De forma alguma poderia ser de outro modo. Às vezes acredita-se que certas coisas nos são impossíveis. Mas não posso imaginá-la de outra forma que não presa entre meus dentes, arranhada com minha barba.

domingo, 13 de março de 2011

[interlúdio I-M-P-R-E-S-S-I-O-N-A-N-T-E]

Alberto estava viveu como uma pessoa normal por 9348 dias. Nasceu em uma família comum. Na infância passeava com o coração na mão. Gostava muito de brincar e cantar. Hora em outra, ia à igreja. Tinha poucos bons amigos.

Durante a juventude se relacionou, de forma bastante saudável com o sexo oposto. Como uma pessoa normal, teve paixões, desilusões, amores maiores e menores. E a fim de cada ciclo, sentia-se uma pessoa melhor.

No dia de número 9349 algo aconteceu. A lógica de funcionamento das coisas se virou ao avesso. E, ao fim de uma semana, Alberto estava fazendo incursões noturnas pelos becos da cidade, trajando coturnos do exercito, cuecas samba-canção, e uma IMPRESSIONANTE capa.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

pontinho

Hoje eu escrevi com a luz apagada, com uma caneta que falhava. Já comecei, meio que aceitando que no fim, já  não saberia por que comecei, ou melhor, por onde. O porquê eu sei. Estou nostálgico. queria contar algumas histórias, mas sempre, no meio do caminho me bate uma falta, sempre algo tolo. Como um pontinho preto na unha, que sempre leva uma eternidade para desaparecer. E, depois de algum tempo, você já nem se lembra em que unha era.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

TÔ AQUI.

[interlúdio hã?!]

Josias corria. alguns pingos o atingiram antes que pudesse entrar no prédio. Batia os pés no chão, com a estranha sensação que isso o tornava mais seco. Dona Arlete tá esperando, se adiantou o porteiro. Aceno cortes de ambos. Josias esperou. O elevador chegou.

Deivid Damião lia todas as manhãs o Meia Hora. Lambuzava-se e, eventualmente, sumia.

Quando a porta abriu Deivid Damião estava dentro, num ângulo de 45 graus para sul que ninguém nesse mundo, além do Sagrado Sagradíssimo Sábio  Senhor de Javé seria capaz de explicar.

Companheiro, diziam os olhos de ambos sorrindo ao se depararem, um efusivo aperto de mãos, com direito a tapinhas nos ombros. E aí?! E aí?! Deivid Damião decidiu subir novamente, precisava contar as novas.

Maluco! Você sabia que o Olívio mora aqui? Tô vindo da casa dele. Que Olívio? Nunca te falaram, o do olho no joelho?

????????!!!!!!!!HHHããã!!!!!!!!!!!!!??????????

Porra! você não tá sabendo? O cara tem um olho no joelho, o globo ocular completo! Você tem de vê-lo...

Pararam no sexto andar. A porta estava aberta. Corredor cheio, mal pareciam estar num prédio. Se aproximaram...

Olívio tinha mais de um metro e noventa e devia pesar uns cem quilos. Cabelos de cobre e uma super-barbona rúiva. Bastou um olhar de Deivid Damião e Olívio já sabia o que fazer. Levantou a calça acima do joelho esquerdo e Josias pode ver que tinha mesmo a merda de um olho nojento no joelho do cara, com globo salatdo etudo.

Josias achou o máximo!

Foi tomado de uma alegria suprema logo que Olívio começou a exibir-se aos transeuntes do corredor. Levantava se joelho como Daniel San e anunciava com sua voz suave e curta: Choquinho... Chaquinho...

E, efetivamente, cada transeunte levava um:

Choquinho!...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

[interlúdio auto-explicativo]

Como um tornado de desenho animado, entraram de uma vez gritando; mamãe, mamãe!!!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

[subterfúgio da convergência]

% Marlene tinha fixação por bigodes.

§ Márcio não sabe dançar.

@ Jair gosta da bonecas.

# Elaine rabisca as paredes do quarto.

% Todos os dias no banho, brincava de se barbear com a lâmina do pai, na esperança de que em alguns meses fosse premiada. tal hábito a fez desenvolver um talento único e, hoje em sua galeria, exibe os mais excêntricos trabalhos.

§ Aos dezessete anos se iniciou na vida boêmia. De pé. Num canto da pista se segurava num copo, e encantava as mulheres com sua atitude desinteressada.

@ Da janela do apartamento, viam-lhe o rosto de vez em quando. Ele ria quando se lembrava da condição limitada das pessoas, afinal, ninguém possui uma visão curva para ver se santuário. 169 barbies.

# Todos os anos precisava pintar as paredes da casa, pois estavam fechadas. Intitulava os cômodos da casa com as estações do ano e desenhava um metro quadrado por dia.

& E havia, também Evaristo: e em que ele se relaciona com tudo isso? Não muita coisa. Ele apena gosta de um belo rabo.

sábado, 27 de novembro de 2010

[subterfúgio malandrex]

Fumaça estava radiante, dentro de um terno de R$ 129,90 comprado na C&A em três vezes sem juros. Feito o vento cobria as lustrosas calçadas da Avenida Paulista. Eis que de repente, uma torrente de glória abateu seu magro ser, descobrira de supetão a Augusta.

Mesmo sendo onze e quinze da noite, ele fez questão de sacar o oakley escuro do bolso e adornar a testa. Com a outra mão, se muniu num rápido movimento com seu novo celular, deu o play num belo pagode romântico e assim, abusando do swing da cor, desfilou pela Augusta, enquanto lançava sedutores olhares às novinhas que lhe cruzavam o caminho. E à primeira que lhe deu ousadia, se apresentou: e aí gata, meu nome é Wanderkcleydson.

[...]

Era uma vez uma gordinha pouco aceita, Leidimar, na ânsia de pôr em prática sua sexualidade, fazia topava de tudo. Mal sabia ela que, nunca antes na história desse país, uma mulher que acasalara com tantos machos. E sim, ela esfregaria isso na sua cara sua raquítica.

[...]

Foi uma noite da mais pura fuleragem…

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

[subterfúgios as três da manhã]

As cinco da manhã seus olhos tinham areia olhou seu corpo a meia luz e desejou estar em outro lugar. Sentiu o peso de sua perna e esqueceu o que a levara até ali. Pensou que sua vida era tão simples, uma rotina besta, trabalho, estudo, igreja, filho, cachorro, uma trepada com “KY”e tudo ia bem...

Agora as cinco da manhã com olhos de areia, meia luz e uma silhueta em sua visão, parecia tudo um tanto dantesco, ficou confusa e pensou “ eu fiz de novo”. Levantou sem fazer barulho andou nas pontas dos pés, foi até o banheiro olhou no espelho e não se reconheceu, falou baixinho se olhando “eu fiz isso mesmo?”

Sentiu um frio e caiu no chão, não sabia se era seu sangue ou o dele, mas havia muito sangue, fraca fechou os olhos.

[interlúdio dos três]

Eram duas ou três da manhã eles eram dois ou três, Samantha soltou uma gargalhada e pedia mais um gole. Olhou e viu um corpo bonito no espelho, era o seu? Willian lhe chamou, mas a chamou de Paula? Sam ficou confusa e choramingou “Will vem pra cá!!”, ele a abraçou de conchinha ela sentiu um perfume diferente “Ahhh Will para com isso...” Sentiu as mãos abrindo suas coxas e percebeu que não estavam a sós. Mas já era tarde eram três da manhã ou mais...

[interlúdio suícida]

Suzana esta só, pediu uma pizza, assistiu mais um filme, abriu a geladeira pegou uma coca-zero, misturou na tequila, fechou seu notebook, acabara de mandar os e-mails as 3 da manhã avisando de sua morte as 3:15

[interlúdio escrito]

Acordou assustada, que foi aquilo? Pensou “ será que tomei meu remédio”. Levantou foi à cozinha bebeu água, respirou ligou o computador e foi escrever...


[prelúdio materno]

O bebê chorou e mecanicamente Alice levantou sonada e foi vê-lo. Entrou no quarto e o olhou estranho e o bebê dormia muito bem. O olhou mais uma vez, como é lindo e pacífico um bebê dormindo, suspirou, sentia-de cansada, mais feliz, afinal ela demorou tanto pra ter aquilo e agora tinha medo , medo de perder as rédias, ficou ali olhando e perdeu a noção do tempo voando em seus pensamentos, voltou pra cama e o bebê chorou.

[amanhã ressaca]

Abriu a porta e entrou sem fazer barulho as três da manhã tudo parecia muito alto, quase tropeçou em um brinquedinho do seu irmão, não aguentou correu pro banheiro e vomitou...






segunda-feira, 8 de novembro de 2010

[interlúdio metropolitano]

Seu nome é Antônio e anda tranquilamente pelas ruas de São Bernardo. Observa com interesse e contempla a desarquiteturta da cidade.

São botinas batidas as que pisam o chão, de couro cru e cheirando a esterco. As barras das calças dobradas e emboladas, deixando a mostra os tendões. Pó. No bolso o canivete, fósforos e o fumo de corda. E sobre o peito uma camisinha xadrez empapada de suor. Chapéu de feltro na cabeça. Ao ombro uma enxada de cabo liso sendo segurada.

E na cintura, por entre o cinto fininho de couro, a herança de família, um 38 com o número de série raspado.

Eh fresquinha boa.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

[refúgio assalariado]

No setor das injetoras, Damião e Maria se conheciam e se contorciam. Eram dois animais que, embora racionais, não compartilhavam da lógica dos outros seres.

[...]

Damião abriu os olhos. Dor nas têmporas e gosto metálico na boca, barriguinha cheia de carne, batatas e conhaque e um luxo pretensioso, ostentador. Cachaça. A sanca de gesso e o néon azulado, só o restinho. Feliz envolveu Maria nos braços. Rigidez. Na tabuleta perto da televisão um alerta: limpeza extra 30 reais.

[...]

Foi direto e conciso e assim, Maria cedeu. Estavam enjoados com seus casamentos. Cansados dos filhos e dispostos às novidades concisas, feito as pernas de um touro.

Cheiravam-se no refeitório. Damião a convidou, após alguma relutância e incentivo das colegas ela aceitou.

Ele sempre abria a porta do carro, finalmente as sessenta prestações pareciam valer a pena, pois Maria se despojava no banco. Rindo-se ao lembrar do coletivo que estivera, ainda naquela manhã, aspirava o cheiro do tecido. Damião estava cheiroso e lascivo, corria seu um quilo de mão coxas de Maria, que lembravam muito, pelo formato, coxinhas de galinha.

No salão for-de-laranjeira chutaram estrelas. Mergulharam em uísque, vodka, e tesão. E viveram, numa torrente de alegria ligeiras e serelepes.

O gol bolinha rompia o ar da noite. No limite da velocidade, contudo veloz. Um caça assalariado, analfabeto e orgulhoso. O motel se chamava Le Amour. Lugar limpo e mediano. Embolaram-se na disputa pelo corpo um do outro, pelejaram por quarenta minutos.

Enquanto a fumaça dos cigarros desenhavam esculturas abstratas no ar o Bolero de Ravel lhes fazia pairar.

No bater da fome notaram o frigobar. Então festejaram entoando cantigas de reis pela fartura enquanto em explosões de sabores ofereciam a baco cada um dos petiscos. Sentiam-se consumados. E bem no fundo, felizes e dispostos a repetir aquilo todas semana. Afinal, era uma bela festinha pela módica quantia de setenta reais.

Entretanto...

Entretanto senhoras e senhores.

Sempre chega o dia em que, questionados pelo mundo, começam a se questionar. Maria com toda a razão do mundo, enquanto esfregava os azulejos do banheiro pensava - Oh meu deus... o que foi que eu fiz. E Damião - Mas é o inferno mesmo! Duzentos e vinte real!