SUBTERFÚGIOS
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Vó Creuza
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Fanfara
domingo, 29 de janeiro de 2012
Canção Batida
sábado, 21 de janeiro de 2012
Frases soltas ideias nem tanto
sábado, 14 de janeiro de 2012
Nasceram Flores
naquele dia desde cedo lhe surgiu uma estranha coceirinha por cima da orelha esquerda. uma certa dormência.
jana usava um vestidinho bem curto. caminhava contendo-se, parecia recear que a priquitinha de repente saisse voando. não que se importasse se a pombinha batesse asas e voasse. mas não daquele momento, não era esse o tipo de glória que ela gostaria que ficasse em sua memória.
mediu com exatidão na mão a quantidade de creme pra pentear, durante o trajeto foram exatas145 olhadelas no espelho para conferir o visual. chamou a atenção, cada uma delas, uma pequena veruguinha, que aparecia e crescia ali, no local da dormência, agora promovida a ardência. respirou fundo: abstráia memina, ainda tô gostosa.
e agora no palco do seu raul gil, chegara o momento de sua revelação para o mundo. escolheu a dedo a canção. tamanho bom gosto, não foi o suficiente prara driblar as vontades e duvidosas dos jurados.
e em seus passou resignados em direção a cochia é que realmente lhe descobriram. lhe nasciam flores.
nasciam flores.
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
O menino das pétalas pretas
Agora, tudo que eu consigo me lembrar é a cena.
[saída temporal]
Eu não deveria ter chamado seu nome... Eu e essa minha mania de fazer alarde sempre dá nisso. O fato que na hora em que cheguei, ela estava de costas, com os cabelos amarrados feito um rabo-de-cavalo, os livros numa mão. E com a outra mão ela segurava a mão do menininho, que conseguia ser ainda menor que ela...
E como ele era frágil e belo, parecia um anjo sendo cuidado pela minha garotinha...
Um menininho todo feito de pétalas de flores pretas... Parecia até sonho, eram flores de fato, não que eu precisasse de confirmação, mas só pra registrar, eram flores de fato. Ele nem se mexia. Ela o segurava pela mãozinha como se fosse feito de cristal.
Se eu fosse mais calmo poderia me aproximar primeiro sem evocações, (uma coisa tão simples, tão pura, não resiste a isso) e sentir seu perfume, junto à garotinha... Mas esses meus vícios provocam isso, deixam as atitudes fraternais sempre no campo das idealizações... E eu já há algum tempo prometi não me martirizar, porém de ser patético eu não escapo.
[regresso]
Eu chamei seu nome e na hora que ela se virou e soltou sua mão. Ele caiu pra frente, relativamente sólido, como uma flor que desabrochou há pouco e desmanchou... Agora o vento se encarregará dele.
Enfim... Enquanto a garotinha me olhava, tudo que eu podia fazer era olha-lo. E lamentar.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
cartas
Fiquei durante um bom tempo prevendo esta carta. Possivelmente a última. E eu sei que agora é o momento, o que não significa que eu tenha certeza que as coisas vão dar certo ou errado.
Estou realmente cansado. Não é uma queixa, é um efeito colateral.
Também lhe digo essas coisas porque faz tempo que você não se faz presente e eu não a culpo, alias, como eu poderia culpa-la, é o melhor que faz.
Pois a ausência foi um ponto importante, pelo menos pra mim, foi aí que eu pude entender,.A resposta seria sim ou não. E foi o não. Isso me chateia um pouco. Mas nada insuportável. E isso tem um lado bom também; desci da corda bamba. E agora, aqui de baixo, posso contemplar o que houve.
Aconteceu o seguinte. Você tornou-se minha heroína pessoal, por mais estranho que isso pareça, sei que é bem possível, quase certo que você não aceitará tal condição. Mas eu não fiz isso de propósito, primeiro eu senti medo de que fosse um estranho tipo de obsessão que estivesse surgindo em mim, mas depois de um tempo, um longo tempo, foi que eu compreendi que era simplesmente um caso de admiração crônica.
Pois é... eu também não sei como isso foi acontecer... logo eu, que não acredito em heróis.
Mas no presente não você precisa se preocupar com todas essas coisas; não sei por onde você anda e isso evita que eu cometa mais alguma bobagem. E agora eu pretendo acalmar meu peito, pois deus sabe que meus motivos nunca foram nobres. Isso também não aconteceu de propósito, um certo dia eu cansei de ser que era, então projetei uma nova vida livre de sofrimentos, só que o mundo é assim: muitas vezes pra alcançar a imaginada felicidade acabamos por corromper nossas almas. E quando acaba um ciclo, fica tudo gravado.
Por isso chegou a hora de eu me calar, assim eu evito machucar alguém.
Desejo-te toda felicidade que for possível e deixo aqui o beijo que nunca aconteceu.
Adeus.
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Era a semana de seu aniversário.
Chegava em casa tarde da noite, viu uma cena que não era inédita, porém dessa vez ele – a viu de fato. Três rapazes encostados conversando, uma esquina antes de sua casa. E um cão o encarava, Não nutria nenhum medo em especial por cães, nem pelos rapazes.
Fábio se aproximava dos rapazes. O cão notou sua presença, alerta. As orelhas se viradas para a frente, a cauda em riste, notou-se o peito inflar, aspira rosnando e respira com um latido esganiçado e alto. Projeta o corpo para frente repetindo e projetando o peito, de acordo com o rosnado e o latido/
***
Nos últimos tempos esteve meio cansado, a rotina do banco já havia sido automatizada, nem assim ele perdera o gosto por trabalhar ali. O que o cansava mais eram os estudos, apesar de gostar das aulas. As provas estavam tirando o sono.
***
Fábio era honrado de nascença, e inteligente. Aos vinte e um anos trabalhava no Unibanco, começou como continuo. Fez carreira, como auxiliar tinha um futuro promissor. Entrava as oito e saia as seis todos os dias. Constantemente levava trabalho para casa. Mas tudo valia a pena, era um grande investimento.
Estava no segundo ano de ADM, conseguia ser um aluno mediano. O que era bastante razoável tendo em vista o quanto trabalhava.
Isso era possível em virtude de sua intuição para
Carla cobrava mais de tempo do rapaz. No fundo ela o amava e sonhava com o futuro brilhante. Mas acima de tudo ela lhe confiava e sabia que se ele dizia que tanta dedicação era importante. Os pais sabiam que não tardaria a emancipação. Sentiam orgulho.
***
/avançou até a perna do pedestre, com o objetivo de fazer o maior estrago possível.
Fábio o encarava, estudadva, andava devagar, como costumava fazer nesse tipo de situação só que dessa vez as coisas não ocorreram exatamente dessa forma. O cão avançou mais do que o esperado e mordeu seu tornozelo – os rapazes observavam – chutes brutais. A luta corporal se seguiu até que Fábio conseguiu dominar o cão.
Cravou os dentes no pescoço do animal, rasgando suas vísceras, mergulhou na hemorragia, até a morte – os rapazes observavam – sentia os nervos em sua língua.
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domingo, 25 de dezembro de 2011
mermão
domingo, 11 de dezembro de 2011
tomo café incontaveis vezes ao dia e meu amigo Sergio me aconselhou a me alimentar melhor. não sei se posso, quero, ou tenho motivos pra isso.
todos somos em parte patéticos. o que nos alivia um pouco é lembrar que essa não é uma condição exclusiva. há sempre bons momentos, que ficam para história. sei que hoje sou uma pessoa melhor, já não anseio tanto pelo futuro. e o contrasenso é que parte de mim, nem pensa em festejar por nada, mas há outra parte que comemora por cada gato que agarra um rato.
parte de mim deseja amar desesperadamente como a marreta que decompõe do solo. dançe para mim mais uma vez, não me importo com a dança, mas amo essa tua liberdade.
o restante não deseja nada.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Um tempinho
meus passos são largos. e desliso pela rua feito um veiculo monotrilho.
a maior parte do tempo não admito e, também não acredito, não sou um artista. e mesmo que fosse, não mudaria nada. mas o fato é que o sou e devoro tudo o que produzo antes mesmo de pôr pra fora.
desco a ladeira preparando um banquete, como-o. e me ofereço um cigarro de sobremesa.
***
tenho muitas vidas. hoje tive a oportunidade de ser um idolo, cortar o rebanho, me esquivando ao máximo. voce não é capaz de imaginar o prazer que sinto em desviar de suas mãos. uma chuva de glória, é despencar no abismo celestial, roçando em sexos de anjos sem precisar se importar, pois é deus e, os criou com esse único propósito.
***
estou cansado.
***
e num passe de mágica, me refaço.
ora volto e revivo todas as coisas belas que ja recebi. todas vocês. foram e são a alegoria e a cor da minha existência. e eu fiz boleros. as mulheres que dançam, que sorriem, esbravejam, que se aconchegam, que enlouquessem, que se vestem e perdem as calcinhas, que cantam, choram, e compõem, são metade de mim. a outra metade foi antes de vocês, antes mesmo de mim, a outra metade era só a beleza viva, de uma juventude que jamais terminaria. beleza sem motivos, nem pretenções, ou intenções. beleza em estado bruto, que uma simples palavra, o nome das coisas, seria capaz de desvirtuar.
sim acabei de devorar tudo.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
hoje tenho 26 anos e uma vida cheia de confluências e intercessões.
hoje pensei em muitos que cruzaram mau caminho direta ou indiretamente e nas resoluções de suas vidas, por hora.
são duas da manhã e eu nem sempre me suporto. fico feliz que alguém tenha inventado os cigarros.
o sono não vem. tenho a tv, tenho internet, tenho leitura e, por fim, o que me basta é a luz acesa, o restante de um caderno velho e mais uma tentativa de ser sincero, mesmo que para isso seja o mais cafona, o mais brega do mundo.
sei que os defeito, falhas e necessidades ainda estão aqui, não penso em nega-los, mas por outro lado, o X da questão é que não vou tentar transformá-las num tipo de ostentação decadente.
existem coisas que são decadentes por si próprias e estão em mim e, por mais que eu lave a pele, jamais vão sair.
hoje tenho 26 anos e, se é pra ser verdadeiro eu já aprendi, já sei de algum tempo de algumas coisas: o sexo não vale tanto quanto eventualmente eu faço alarde, eu sou um item que se emprega no mundo usando de uma forma auto-obsoleta-planejada e, a unica diferença entre mim e os outros homens é o meu lirismo, que trabalha criando um simulacro, um sanduíche, uma ceifada de realidade, uma mentira aceitável.
e o que eu quero? uma companhia de verdade, que me dê um lampejo de novidade que baste e valha pelas horas que se vive. no fim, paro de escrever e volto a encarar o infinito.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
A máfia dos artistas mirins
Olá como vai?
domingo, 9 de outubro de 2011
lira dos vinte e poucos anos
fábula batatera
domingo, 25 de setembro de 2011
10 PAIXÕES
domingo, 13 de março de 2011
[interlúdio I-M-P-R-E-S-S-I-O-N-A-N-T-E]
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
pontinho
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
[interlúdio hã?!]
Deivid Damião lia todas as manhãs o Meia Hora. Lambuzava-se e, eventualmente, sumia.
Quando a porta abriu Deivid Damião estava dentro, num ângulo de 45 graus para sul que ninguém nesse mundo, além do Sagrado Sagradíssimo Sábio Senhor de Javé seria capaz de explicar.
Companheiro, diziam os olhos de ambos sorrindo ao se depararem, um efusivo aperto de mãos, com direito a tapinhas nos ombros. E aí?! E aí?! Deivid Damião decidiu subir novamente, precisava contar as novas.
Maluco! Você sabia que o Olívio mora aqui? Tô vindo da casa dele. Que Olívio? Nunca te falaram, o do olho no joelho?
????????!!!!!!!!HHHããã!!!!!!!!!!!!!??????????
Porra! você não tá sabendo? O cara tem um olho no joelho, o globo ocular completo! Você tem de vê-lo...
Pararam no sexto andar. A porta estava aberta. Corredor cheio, mal pareciam estar num prédio. Se aproximaram...
Olívio tinha mais de um metro e noventa e devia pesar uns cem quilos. Cabelos de cobre e uma super-barbona rúiva. Bastou um olhar de Deivid Damião e Olívio já sabia o que fazer. Levantou a calça acima do joelho esquerdo e Josias pode ver que tinha mesmo a merda de um olho nojento no joelho do cara, com globo salatdo etudo.
Josias achou o máximo!
Foi tomado de uma alegria suprema logo que Olívio começou a exibir-se aos transeuntes do corredor. Levantava se joelho como Daniel San e anunciava com sua voz suave e curta: Choquinho... Chaquinho...
E, efetivamente, cada transeunte levava um:
Choquinho!...
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
[interlúdio auto-explicativo]
terça-feira, 30 de novembro de 2010
[subterfúgio da convergência]
§ Márcio não sabe dançar.
@ Jair gosta da bonecas.
# Elaine rabisca as paredes do quarto.
% Todos os dias no banho, brincava de se barbear com a lâmina do pai, na esperança de que em alguns meses fosse premiada. tal hábito a fez desenvolver um talento único e, hoje em sua galeria, exibe os mais excêntricos trabalhos.
§ Aos dezessete anos se iniciou na vida boêmia. De pé. Num canto da pista se segurava num copo, e encantava as mulheres com sua atitude desinteressada.
@ Da janela do apartamento, viam-lhe o rosto de vez em quando. Ele ria quando se lembrava da condição limitada das pessoas, afinal, ninguém possui uma visão curva para ver se santuário. 169 barbies.
# Todos os anos precisava pintar as paredes da casa, pois estavam fechadas. Intitulava os cômodos da casa com as estações do ano e desenhava um metro quadrado por dia.
& E havia, também Evaristo: e em que ele se relaciona com tudo isso? Não muita coisa. Ele apena gosta de um belo rabo.
sábado, 27 de novembro de 2010
[subterfúgio malandrex]
Mesmo sendo onze e quinze da noite, ele fez questão de sacar o oakley escuro do bolso e adornar a testa. Com a outra mão, se muniu num rápido movimento com seu novo celular, deu o play num belo pagode romântico e assim, abusando do swing da cor, desfilou pela Augusta, enquanto lançava sedutores olhares às novinhas que lhe cruzavam o caminho. E à primeira que lhe deu ousadia, se apresentou: e aí gata, meu nome é Wanderkcleydson.
[...]
Era uma vez uma gordinha pouco aceita, Leidimar, na ânsia de pôr em prática sua sexualidade, fazia topava de tudo. Mal sabia ela que, nunca antes na história desse país, uma mulher que acasalara com tantos machos. E sim, ela esfregaria isso na sua cara sua raquítica.
[...]
Foi uma noite da mais pura fuleragem…
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
[subterfúgios as três da manhã]
As cinco da manhã seus olhos tinham areia olhou seu corpo a meia luz e desejou estar em outro lugar. Sentiu o peso de sua perna e esqueceu o que a levara até ali. Pensou que sua vida era tão simples, uma rotina besta, trabalho, estudo, igreja, filho, cachorro, uma trepada com “KY”e tudo ia bem...
Agora as cinco da manhã com olhos de areia, meia luz e uma silhueta em sua visão, parecia tudo um tanto dantesco, ficou confusa e pensou “ eu fiz de novo”. Levantou sem fazer barulho andou nas pontas dos pés, foi até o banheiro olhou no espelho e não se reconheceu, falou baixinho se olhando “eu fiz isso mesmo?”
Sentiu um frio e caiu no chão, não sabia se era seu sangue ou o dele, mas havia muito sangue, fraca fechou os olhos.
[interlúdio dos três]
Eram duas ou três da manhã eles eram dois ou três, Samantha soltou uma gargalhada e pedia mais um gole. Olhou e viu um corpo bonito no espelho, era o seu? Willian lhe chamou, mas a chamou de Paula? Sam ficou confusa e choramingou “Will vem pra cá!!”, ele a abraçou de conchinha ela sentiu um perfume diferente “Ahhh Will para com isso...” Sentiu as mãos abrindo suas coxas e percebeu que não estavam a sós. Mas já era tarde eram três da manhã ou mais...
[interlúdio suícida]
Suzana esta só, pediu uma pizza, assistiu mais um filme, abriu a geladeira pegou uma coca-zero, misturou na tequila, fechou seu notebook, acabara de mandar os e-mails as 3 da manhã avisando de sua morte as 3:15
[interlúdio escrito]
Acordou assustada, que foi aquilo? Pensou “ será que tomei meu remédio”. Levantou foi à cozinha bebeu água, respirou ligou o computador e foi escrever...
[prelúdio materno]
O bebê chorou e mecanicamente Alice levantou sonada e foi vê-lo. Entrou no quarto e o olhou estranho e o bebê dormia muito bem. O olhou mais uma vez, como é lindo e pacífico um bebê dormindo, suspirou, sentia-de cansada, mais feliz, afinal ela demorou tanto pra ter aquilo e agora tinha medo , medo de perder as rédias, ficou ali olhando e perdeu a noção do tempo voando em seus pensamentos, voltou pra cama e o bebê chorou.
[amanhã ressaca]
Abriu a porta e entrou sem fazer barulho as três da manhã tudo parecia muito alto, quase tropeçou em um brinquedinho do seu irmão, não aguentou correu pro banheiro e vomitou...
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
[interlúdio metropolitano]
São botinas batidas as que pisam o chão, de couro cru e cheirando a esterco. As barras das calças dobradas e emboladas, deixando a mostra os tendões. Pó. No bolso o canivete, fósforos e o fumo de corda. E sobre o peito uma camisinha xadrez empapada de suor. Chapéu de feltro na cabeça. Ao ombro uma enxada de cabo liso sendo segurada.
E na cintura, por entre o cinto fininho de couro, a herança de família, um 38 com o número de série raspado.
Eh fresquinha boa.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
[refúgio assalariado]
[...]
Damião abriu os olhos. Dor nas têmporas e gosto metálico na boca, barriguinha cheia de carne, batatas e conhaque e um luxo pretensioso, ostentador. Cachaça. A sanca de gesso e o néon azulado, só o restinho. Feliz envolveu Maria nos braços. Rigidez. Na tabuleta perto da televisão um alerta: limpeza extra 30 reais.
[...]
Foi direto e conciso e assim, Maria cedeu. Estavam enjoados com seus casamentos. Cansados dos filhos e dispostos às novidades concisas, feito as pernas de um touro.
Cheiravam-se no refeitório. Damião a convidou, após alguma relutância e incentivo das colegas ela aceitou.
Ele sempre abria a porta do carro, finalmente as sessenta prestações pareciam valer a pena, pois Maria se despojava no banco. Rindo-se ao lembrar do coletivo que estivera, ainda naquela manhã, aspirava o cheiro do tecido. Damião estava cheiroso e lascivo, corria seu um quilo de mão coxas de Maria, que lembravam muito, pelo formato, coxinhas de galinha.
No salão for-de-laranjeira chutaram estrelas. Mergulharam em uísque, vodka, e tesão. E viveram, numa torrente de alegria ligeiras e serelepes.
O gol bolinha rompia o ar da noite. No limite da velocidade, contudo veloz. Um caça assalariado, analfabeto e orgulhoso. O motel se chamava Le Amour. Lugar limpo e mediano. Embolaram-se na disputa pelo corpo um do outro, pelejaram por quarenta minutos.
Enquanto a fumaça dos cigarros desenhavam esculturas abstratas no ar o Bolero de Ravel lhes fazia pairar.
No bater da fome notaram o frigobar. Então festejaram entoando cantigas de reis pela fartura enquanto em explosões de sabores ofereciam a baco cada um dos petiscos. Sentiam-se consumados. E bem no fundo, felizes e dispostos a repetir aquilo todas semana. Afinal, era uma bela festinha pela módica quantia de setenta reais.
Entretanto...
Entretanto senhoras e senhores.
Sempre chega o dia em que, questionados pelo mundo, começam a se questionar. Maria com toda a razão do mundo, enquanto esfregava os azulejos do banheiro pensava - Oh meu deus... o que foi que eu fiz. E Damião - Mas é o inferno mesmo! Duzentos e vinte real!