O cãozinho de deus se chamava cinzento. Havia quem gostasse de lhe forçar um rosnado empurrando-lhe os beiços flácidos para cima, deixando a mostra suas gengivas pretas.
Sua forma de fuçar era a mais sutil e comovente que se tem notícia. Solto nos jardins da casa do senhor perambulada como que sonolento e desinteressado, com o rabo sempre num anglo obtuso, como uma vassourinha cinza e cansada de uma vida inteira de amores defenestrados.
Ria-se, quando imaginava ter matado uma pulga com o matraquear de dentes sob o pêlo ralo e sujo. E sorria de forma muito mais contida quando encontrava qualquer um cuja mão pudesse lamber e, posteriormente, receber um afago na cabecinha.
[interlúdio do êxtase]
Eis que de repente; permitiu-se cintilar em sonhos prateados, na dinâmica das brincadeiras de perseguição pudera sentir seu pêlo chacoalhando dividindo-se em tufos envolto na brisa do fim da tarde.
Agora cinzento não ria.
Gargalhava-se.
Pois encontrara tristonha numa caixa de papelão mayka, a gata do diabo.
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