quinta-feira, 3 de setembro de 2009

[subterfúgio da capacidade]

Nunca teve muitos escrúpulos, cinismo era parte integrante de sua personalidade, arredia, teimosa, mas encantadoramente linda, seu sorriso iluminava um quarteirão, com o dom da palavra ela sabia que com alguns argumentos fundamentados ela convencia todo um juri.

Em um scarpan preto com um talieur cinza chumbo e muito bem maquiada, chegava ao fórum meia hora antes da audiência, sempre, passava no banheiro, retocava o batom carmim queimado, olhava no espelho bem no fundo de seus olhos respirava e dizia 'esse juri hoje é meu'.

Autocontrole era sua palavra, mas só ela sabia o que tinha que fazer para sempre estar em cima do salto, muitas vezes escondia toda a sua vontade, mas respirava fundo e ia.

Encontrou seu cliente e teve vontade de fazer cara de nojo, ele era patético queria sempre ganhar pelo meio mais fácil, o suborno, Suzana não aguentava mais isso, era demais para ela, e pior ela sabia que ele continuaria fazendo que sempre fez, ela pensava 'as pessoas não mudam'.
Entrou na audiência e começaram os trabalhos e a palavra era sua, levantou olhou para todos, fez cara de nojo para seu cliente, fez um cumprimento breve para seu chefe que estava assistindo, fechou sua pasta, colocou dentro de sua valise, pegou sua bolsa e saiu.

Pessoas não mudam, ela pensou, então descobriu que nunca servira para isso.

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